A ingestão de psicodélicos costuma vir acompanhada por muitos temores – e preconceitos – da população em geral, mas também por profissionais da saúde. Um dos maiores é a percepção de que a experiência psicodélica possa ser parecida com surtos psicóticos, como os causados por esquizofrenia, por exemplo.
Desde o século 19, cientistas afirmam que os efeitos psicodélicos são equivalentes a episódios de psicose. Quando o LSD foi inventado em 1943, pesquisadores chegaram a oferecer a substância a voluntários saudáveis em estudos, para poder examiná-los como se estivessem em estado de psicose.
Mas não é bem assim. A revista científica Schizophrenia Bulletin de novembro de 2020, publicou um estudo, conduzido por pesquisadores dos EUA, França, Inglaterra, República Tcheca, Bélgica, Suíça e Austrália, que mostra que, de fato, esses dois estados de consciência são distintos. Os pesquisadores coletaram dados farmacológicos, de neuroimagem, de fenomenologia e da antropologia para chegar a essa conclusão – e encontraram diferenças importantes.
Em primeiro lugar, confirmaram que, enquanto episódios de psicose e de esquizofrenia causam alucinações auditivas, as experiências psicodélicas provocam efeitos principalmente visuais. Isso já havia sido apontado nos anos 50, mas agora neuroimagem mostra que o efeito se deve a padrões distintos de atividade cerebral. No caso da psicose, ela ocorre em regiões de córtex associativo. Já no caso dos psicodélicos, a atividade se concentra mais no córtex visual primário.
Outra diferença importante está na percepção da realidade. Durante casos de psicose e de esquizofrenia, os pacientes sentem dificuldade em distinguir as alucinações que estão ouvindo da realidade externa. Por outro lado, a maior parte das pessoas que ingerem psicodélicos são capazes de distinguir o que, entre tudo que estão enxergando, é efeito da substância e o que está realmente no ambiente ao redor.
A literatura científica mostra que são extremamente raros os casos em que substâncias psicodélicas causem surtos psicóticos. Por isso, é importante reconhecer a diferença entre os dois quadros. Isso se torna ainda mais urgente nos últimos anos, em que as pesquisas com o uso terapêutico e clínico de psicodélicos não param de crescer, mas em que o receio com essas substâncias ainda é muito comum em muitos profissionais da área da saúde.
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Link: https://academic.oup.com/schizophreniabulletin/article/46/6/1396/5908041