A Gestalt Terapia é uma abordagem humanista da psicologia, adotada em todo o mundo. Ainda assim, poucos conhecem sua ligação próxima com o uso terapêutico de psicodélicos. Isso porque um dos principais sucessores de Fritz Perls, fundador da Gestalt Terapia, foi o psiquiatra chileno Claudio Naranjo.
Naranjo é bastante conhecido por aqui pelo seu trabalho com o eneagrama, um modelo de tipologias de personalidade utilizado em caminhos de autoconhecimento e espiritualidade. O chileno contribuiu adicionando uma compreensão psicológica e psiquiátrica à técnica, enriquecendo bastante a ferramenta.
No entanto, ao longo de sua vida, Claudio Naranjo também se envolveu com o estudo dos psicodélicos, que influenciaram seu trabalho. Na década de 60, fez parte de um grupo seleto de terapia organizado por Leo Zeff, um psicólogo norteamericano pioneiro no uso de substâncias psicodélicas com objetivo terapêutico. Foi a partir desse contato com Zeff que Naranjo introduziu o uso de substâncias como a ibogaína, a principal molécula do arbusto africano Tabernanthe iboga, em alguns dos seus pacientes de psicoterapia.
O chileno chegou a realizar até mesmo uma expedição para a Amazônia em parceria com o grande etnobotânico Richard Evan Schultes, com o objetivo de aprofundar seu conhecimento sobre a ayahuasca diretamente com os indígenas que a utilizavam em seus rituais.
Claudio Naranjo desenvolveu trabalhos riquíssimos de grupo e percebeu o incrível potencial dos psicodélicos para mobilizar afetos, dissolver barreiras e gerar transformações na psique. Deixou um grande legado e uma linhagem de terapeutas que podem (re)encontrar uma ferramenta clínica muito poderosa na Psicoterapia Assistida por Psicodélicos (PAP). Mesmo profissionais que venham de outras abordagens, ou que não se interessam pelos atendimentos em grupo, podem descobrir na PAP e na obra de Naranjo aprendizados muitos valiosos.