Nos últimos anos, pesquisas atrás de pesquisas vêm mostrando que o uso supervisionado de psicodélicos – como o LSD, o MDMA e a ayahuasca – pode ser eficaz para tratar transtornos mentais. Mas, apesar dos indícios científicos benéficos, essas substâncias continuam sendo proibidas na maior parte do mundo. Como resultado, cada vez mais pessoas têm recorrido ao mercado ilegal e à automedicação para lidar com seus problemas de saúde mental.
Pelo menos foi isso que apontou a maior enquete do mundo sobre o consumo de drogas, a 2020 Global Drug Survey, que ouviu 110 mil pessoas em todo o planeta. Nela, os participantes relatam de forma anônima seus hábitos de consumo de drogas. A pesquisa concluiu que quase 6% dos entrevistados estão tomando psicodélicos por conta própria para tratar principalmente depressão e ansiedade. Estresse pós-traumático, vício e luto vêm em seguida.
O estudo apontou que há muitos casos de pessoas recorrendo à microdosagem de LSD para aumentar o “bem-estar geral” – mas há também quem esteja ingerindo psicodélicos sob a supervisão de um amigo ou parceiro, simulando sem regulação ou treinamento profissional os tratamentos psicodélicos desenvolvidos em centros de pesquisa. Apenas 4% de quem está tomando os psicodélicos por conta própria relatou ter procurado algum serviço de ajuda emergencial nos últimos tempos.
“Descobrimos que existem muitas pessoas com condições médicas pré-existentes, para quem os tratamentos tradicionais não estão sendo suficientes ou atraentes”, concluíram os autores do estudo. Para eles, quanto mais demorar o acesso a tratamentos regulamentados e a clínicas profissionais, maior o risco de pessoas vulneráveis partirem para um consumo que possa fazer mal à saúde.
Uma forma de diminuir a distância entre a automedicação improvisada e o consumo com efeitos benéficos seria treinar profissionais da área da saúde para acompanhar esses pacientes. “Treinar psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais para sessões de apoio e integração poderiam diminuir os riscos”, disse a Dra. Monica Barratt, professora da Universidade RMIT, na Austrália, e coautora do estudo, em uma declaração oficial.