instituto phaneros

Seria a microdosagem um tipo de fisiculturismo?

 

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A comparação acima, que a princípio parece sem pé nem cabeça, foi sugerida pelo sociólogo Dimitris Liokaftos, pesquisador da Liverpool John Moores University. Dimitris deu a declaração à revista Forbes em julho de 2021, em uma entrevista dedicada a entender o fenômeno da microdosagem  – um hábito que está se tornando moda entre profissionais de alto nível, especialmente do mundo das startups, no qual são ingeridas doses minúsculas de psicodélicos a fim de supostamente melhorar a performance, a criatividade e o desempenho no trabalho sem desencadear efeitos psicoativos notáveis. (Não há comprovação científica de que isso funcione, no entanto.)

Para o pesquisador, esse comportamento se parece com o fisiculturismo porque as duas práticas datam dos anos 1960 e 1970, e têm como objetivo explorar todo o potencial humano – ou seja, avançar além dos limites óbvios do corpo físico ou da mente. Os dois grupos de pessoas fazem isso por meio de drogas (no caso, esteroides e psicodélicos), que precisam ser tomadas de forma muito precisa e calculada para que se obtenha o resultado desejado. 

Tanto os microdosadores quanto os fisiculturistas propagandeiam que tomam apenas o mínimo necessário dessas substâncias para se beneficiarem delas – inclusive para não sofrerem com os efeitos negativos. Segundo Dimitris, ambos os grupos também são especialmente orgulhosos de sua prática e seus conhecimentos, reiterando como são especiais. Ambos também se sentem na vanguarda, como se estivessem em um ostracismo da sociedade, que não entende o que estão fazendo. 

Seja a comparação entre microdosadores e fisiculturistas válida ou não, uma das declarações que Dimitri deu à Forbes parece incontestável: “Nos anos 1960, os usuários de psicodélicos esperavam mudar um mundo profundamente injusto de uma maneira radical. Hoje em dia, quem faz microdosagem espera mudar a si mesmo a fim de atender às demandas de um mundo que segue sendo injusto. E essa, sim, é uma mudança enorme de perspectiva”.