Uma das menos conhecidas – e mais vergonhosas – histórias da pesquisa psicodélica ao longo do século 20 foi descrita agora em um artigo publicado no Journal of Medical Ethics, de julho de 2021. Os autores, liderados pela psicóloga da Universidade de Ottawa Dana Strauss, examinaram pesquisas publicadas em meados do século passado e concluíram: psicodélicos foram usados em experimentos organizados pela CIA para serem testados como “soro da verdade” para programas de espionagem da Guerra Fria. E pior: para isso, os EUA contrataram fugitivos nazistas alemães que haviam desenvolvido armas químicas para o Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial.
O programa da CIA – a central de inteligência americana – se chamava “MKUltra” e tinha como objetivo alcançar o “controle da mente” e a “lavagem cerebral” de seus inimigos soviéticos, além do tal “soro da verdade”. Para isso, a agência contratou 1600 médicos e cientistas alemães logo depois da Segunda Guerra – entre eles 15 nazistas de alto escalão, dos quais 6 haviam ido a julgamento em Nuremberg por crimes de guerra.
Os testes com psicodélicos nos EUA foram conduzidos na população carcerária, que era composta principalmente por negros e latinos. Muitos deles tinham histórico de doenças mentais como a esquizofrenia – justamente o tipo de paciente que não deve ingerir psicodélicos.
Os participantes foram compelidos a ingerir dosagens altíssimas das substâncias, principalmente de LSD. Alguns foram amarrados durante os testes, outros (entre eles, mulheres) defecavam em si mesmos, muitos se diziam aterrorizados. Apesar de tudo isso, os “médicos” seguiram ministrando as drogas, entre elas mescalina e psilocibina. Não é exagero classificar essas sessões como tortura.
Conhecer esse passado vergonhoso da pesquisa psicodélica é importante, justamente agora, quando especialistas passaram a questionar a baixa representatividade de pacientes e cientistas negros e de outras minorias étnicas e sociais nas pesquisas atuais.