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A Covid-19 é o maior experimento científico da história

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O maior experimento psicológico do mundo está acontecendo neste momento. E você – juntamente com todas as pessoas que você conhece – é um dos participantes. 

A epidemia de Covid-19, que já matou milhões, trouxe crises econômicas e isolou pessoas no planeta inteiro, pode ser entendida como uma grande investigação sobre a capacidade do ser humano de se adaptar a condições adversas. Pelo menos é isso que propôs a revista Scientific American, em um artigo publicado em junho de 2020. Aos cientistas agora resta a pergunta: o quão resilientes, afinal, as pessoas podem ser?

Nunca antes na história uma tragédia alcançou tantas pessoas ao mesmo tempo. Durante alguns meses da pandemia de Covid-10, os lockdowns chegaram a afetar simultaneamente 30% da população mundial, ou 2.6 bilhões de pessoas. É um número maior de gente do que a população inteira da Terra durante a Segunda Guerra Mundial. 

Pesquisas psicológicas que estudam resiliência – a capacidade de alguém de se reequilibrar após perturbações intensas – mostram que dois terços das pessoas costumam superar traumas sem maiores consequências para a saúde física e mental. Vinte e cinco por cento das pessoas passam por algum tipo de distúrbio psicológico, como depressão e estresse pós-traumático, mas se recuperam em seguida. Já o restante, cerca de 10% da população, fica com sequelas duradouras e resistentes, que podem se estender por meses ou até mesmo anos. 

A duração da pandemia e a sua abrangência mundial, porém, preocupam os pesquisadores, que suspeitam que a parcela de pessoas traumatizadas pela crise atual possa ficar acima dos 10% habituais. A consequência seria um “tsunami” de transtornos mentais em todo o planeta, com implicações graves para médicos, hospitais e sistemas públicos de saúde. 

 

Crises múltiplas

 

Para entender a preocupação, basta olhar para a natureza da pandemia. A Covid-19 trouxe consigo crises de todos os tipos: além do medo óbvio da doença, da incapacitação causada por ela e da morte, ela está causando isolamento social e afetivo, dificuldades financeiras, lutos sequenciais, crises conjugais e uma profunda perda de perspectiva. São níveis de estresse, ansiedade e paranoia sem precedentes, avaliam os cientistas. Em todo mundo, linhas telefônicas de atendimento psicológico e de prevenção ao suicídio registraram altas dramáticas. Outro indicativo é o aumento de casos de distúrbios mentais entre profissionais de saúde. 

Uma das características mais perigosas da pandemia de Covid-19 é a sua longa duração, que pode levar ao estresse crônico. Na China, por exemplo, onde a epidemia começou, estudos mostram que 35% da população relatou níveis altos de estresse prolongado. Em todo o mundo, os níveis mais altos de preocupação e ansiedade estão sendo encontrados entre jovens adultos, pessoas que moram sozinhas e quem já possui algum histórico de distúrbio mental. No Brasil, pesquisadores estão avaliando como a pandemia anda afetando os sonhos da população e já indicam: o número de pesadelos inquietantes aumentou consideravelmente. 

A boa notícia, dizem os especialistas, é que os níveis de resiliência podem ser turbinados. As técnicas são as velhas conhecidas dos médicos: dormir bem, manter uma rotina mesmo em tempos de incerteza, praticar exercícios físicos, comer bem e se conectar com pessoas. Para essa última dica, porém, não vale passar horas atualizando os feeds do celular: redes sociais, como se sabe, são notórias inimigas da saúde mental. Na dúvida, é melhor marcar um chat com uma pessoa querida. Outro conselho é começar pequenos projetos com começo, meio e fim, que possam aumentar um senso de propósito para os dias todos iguais.

A dúvida que resta é como atender à crescente demanda de casos graves. É importante notar que a psiquiatria também está passando por uma crise nesse momento, especialmente no atendimento a pacientes com condições mais severas, para os quais os tratamentos disponíveis atualmente alcançam resultados muitas vezes frustrantes. Assim, nos cabe perguntar como desenvolver e disponibilizar métodos mais rápidos, seguros e eficazes para essas pessoas – e se a Psicoterapia Assistida por Psicodélicos, foco de estudo e atuação do Instituto Phaneros, poderá ter um papel importante na sociedade brasileira pós-pandemia.