Povos indígenas da região amazônica têm o chá do cipó ayahuasca. Os do México e dos EUA têm o cacto peiote. Já povos tradicionais da África do Sul e do Zimbábue, os Xhosa, usam a raiz de uma pequenina flor branca. Incontáveis são os registros de sociedades que descobriram – e consomem em contexto ritualístico – plantas com propriedades psicodélicas, as chamadas “plantas de poder”.
Seus usos são milenares, de origens ainda incertas, e ajudaram a moldar as culturas nas quais estão inseridas. E só agora, depois de tanto tempo, ganharam o interesse da ciência ocidental, que tenta descobrir quais os benefícios de consumir psicodélicos nesses contextos comunitários.
O artigo mais recente foi publicado na prestigiosa revista científica PNAS em março de 2021, no qual pesquisadores da Universidade de Yale, nos EUA, estudaram os efeitos dos psicodélicos em 1200 voluntários que participaram de rituais e retiros de seis dias em festivais de música e arte nos EUA e no Reino Unido – contextos certamente bastante diferentes dos rituais chamados de “tradicionais”.
Os pesquisadores confirmam, mais uma vez, que o uso dessas substâncias em rituais coletivos pode ter impactos positivos na saúde mental e na sensação de pertencimento e conexão com os outros, além de aumentar o bom humor e propiciar experiências transformadoras. Os voluntários também relataram uma profunda transformação pessoal, além de alterações em seus valores morais.
Isso aponta para a possibilidade de psicodélicos serem usados como ferramentas para a reintegração de um mundo que se dilacera em radicalizações, sofrimento e isolamento social. Ainda assim, é preciso cuidado: muitas pessoas não devem usar essas substâncias, como aqueles com histórico de psicose, esquizofrenia e problemas cardiovasculares, entre outros. Além disso, é bom lembrar que essas substâncias são extremamente potentes e que seu consumo desenfreado pode trazer riscos – coisas que os povos originários, que os usam de forma controlada e supervisionada, já sabem há muito tempo.