Passar por uma amputação pode ser um evento traumático. Para piorar, cerca de 95% das pessoas amputadas sentem a chamada “dor fantasma” – uma dor aguda e persistente no lugar do membro operado. Tratamentos para ela, no entanto, são raros e pouco eficientes.
Mas um artigo publicado em 2018 na revista Neurocase pelo reconhecido cientista Vilayanur Ramachandran, autor do livro “Fantasmas no Cérebro”, aponta para uma terapia promissora à base de psilocibina, substância dos “cogumelos mágicos”. A pesquisa descreve o caso do paciente “AL”, um homem com fortes dores fantasma na perna amputada, que também sentia outras sensações no local, como toques, calor e picadas. Quando uma perna alheia era posicionada no lugar em que a dele deveria estar, e então recebia uma massagem, por exemplo, AL também sentia o toque, em uma espécie de “efeito espelho”.
A grande novidade ocorreu quando o paciente tomou psilocibina e passou por experimentos visuais baseados nesse efeito espelho. Uma das maiores queixas de AL era que ele ainda sentia os pinos cirúrgicos inseridos na sua perna antes da amputação. Sob efeito da psilocibina, então, AL assistiu a um voluntário simulando que estava retirando uma antena retrátil da perna (para imitar os pinos) e sentiu o mesmo acontecendo com seu membro amputado. AL passou três vezes pelo tratamento e, como consequência, relatou uma queda significativa na dor até meses depois.
Foi com base em relatos como o de AL que pesquisadores agora querem ampliar os testes com psilocibina e dores fantasmas. O Psychedelics and Health Research Initiative, da Universidade Califórnia San Diego, recebeu em fevereiro de 2021 um investimento de US$ 1,3 milhão para investigar esse tipo de tratamento. Trinta voluntários amputados passarão por estudos clínicos de três anos, baseados no procedimento desenvolvido por Ramachandran.
A esperança é que a psilocibina não aja como os analgésicos tradicionais, que precisam ser ingeridos regularmente. Em vez disso, cientistas esperam que ela possa atuar quase como uma “cura”, modificando os circuitos cerebrais responsáveis pela dor fantasma.
Curadoria: UC Sam Diego Health