Você já cansou de saber que cada vez mais estudos sérios – que seguem os mais rigorosos métodos científicos e são regulados pelas agências de pesquisa dos países mais desenvolvidos do mundo – apontam para a eficácia das Psicoterapias Assistidas por Psicodélicos (PAPs) para tratar transtornos mentais. Mas, à medida que esse tipo de investigação se populariza ao redor do mundo, junto com ela, começam a surgir questões éticas importantes.
Nas PAPs, o paciente ingere psicodélicos – sejam eles MDMA, LSD, psilocibina, ketamina – dentro do consultório, acompanhado por terapeutas especializados que irão guiá-lo e confortá-lo ao longo da experiência alucinógena. É uma prática terapêutica diferente das tradicionais, que pode incluir um suporte emocional mais enfático e até algum tipo de contato físico – um aperto de mão, um abraço – quando necessário. Isso se dá porque, muitas vezes, o paciente sob efeitos de alucinógenos pode estar se deparando com memórias vívidas de traumas ou experiências dolorosas do passado.
Recentemente, porém, surgiram denúncias de pacientes que se sentiram desconfortáveis e até mesmo abusados pelos seus terapeutas devido a algum toque físico ocorrido durante uma viagem psicodélica, ou em sessões auxiliares sem ingestão da substância. Há regras que guiam que tipo de suporte pode ser fornecido: jamais com cunho sexual, evidentemente, e apenas aqueles pré-autorizados pelos pacientes antes da experiência. A parte delicada, no entanto, acontece durante a sessão: é possível que um paciente que não tenha autorizado nenhum tipo de contato físico, acabe pedindo esse tipo de interação no meio de uma experiência psicodélica mais desafiadora. O que, então, o terapeuta deve fazer nesses casos?
É esse o desafio que cientistas e psicólogos terão daqui em diante. Como delimitar guias éticos que sejam satisfatórios e ainda assim acolhedores para as pessoas em tratamento? Entender que o self e a identidade das pessoas é fluida, e se altera dentro de diferentes condições pode ser um caminho. Mas – como tudo que envolve os novos tratamentos psicodélicos – há muito o que ser discutido ainda.