Em um estudo recente publicado na revista Translational Psychiatry, um grupo de cientistas da Universidade de Maastricht, na Holanda, demonstrou o efeito do uso da psilocibina, o princípio ativo dos famosos cogumelos mágicos, sobre o pensamento criativo dos participantes.
Ao longo da história, existem diversos relatos individuais sobre o aumento da criatividade causada por psicodélicos, mas pouquíssimos experimentos controlados haviam sido feitos para testar essa hipótese.
A pesquisa reforçou a ideia de que existem duas formas de manifestação da cognição criativa: a deliberada e a espontânea. A cognição criativa deliberada aparece quando alguém está focado em realizar um conjunto específico de passos, em uma situação guiada ou cronometrada (como, por exemplo, ao escrever uma redação ou inventar um prato de cozinha profissional.). Ela exige mais atenção do indivíduo, bem como mais racionalização e planejamento.
Já a cognição criativa espontânea tende a ocorrer quando a atenção está mais desfocada, com pensamentos mais aleatórios, não filtrados – um estado mental supostamente mais semelhante ao estado psicodélico.
Os dados da pesquisa parecem sugerir que a psilocibina foi capaz de aumentar agudamente o potencial para o pensamento criativo espontâneo, ao mesmo tempo em que diminuiu drasticamente o potencial para a cognição criativa deliberada, pelo menos na fase aguda do efeito da substância.
Atualmente, já se sabe que a criatividade costuma depender de um equilíbrio entre a cognição criativa deliberada e a espontânea e, nesse quesito, a psilocibina parece ter levado ainda mais vantagem. Durante a sessão psicodélica, a psilocibina interrompeu a interação entre essas duas cognições mas, depois de finalizada, esse equilíbrio foi restaurado. Isso se tornou evidente pelo número crescente de novas ideias que os participantes foram capazes de ter, uma semana após a sessão, ainda que quantidade de ideias não necessariamente se traduza em utilidade.