Logo nos primeiros meses do surgimento da Covid-19, quando o mundo ainda não sabia o que esperar dessa nova e perigosa doença, um grupo de cientistas baseado na Alemanha resolveu investigar como andava o consumo de psicodélicos durante esse período. Liderados pelos pesquisadores Ricarda Evans e Simon Reiche, das Universidades Livre e Humboldt de Berlim, os cientistas dispararam um questionário online que foi respondido por mais de 5 mil pessoas, com perguntas sobre consumo de substâncias e estado mental.
O questionário foi respondido entre abril e agosto de 2020, e as perguntas estavam disponíveis em cinco idiomas: alemão, inglês, espanhol, italiano e coreano. Dos 5049 participantes, 1375 disseram ter usado psicodélicos em 2019 ou 2020. Destes, 46% contaram ter ingerido as substâncias também durante a pandemia.
Como era de se esperar, o contexto para a ingestão dessas drogas mudou drasticamente antes e depois da Covid-19. Se antes as pessoas usavam psicodélicos por curiosidade, para celebrar ou por que seus amigos também estavam usando, depois da pandemia, a ingestão por tédio se tornou muito mais comum. Isso se deve, é claro, às medidas de restrição de contato e circulação que, especialmente na Alemanha, foram bastante significativas durante os primeiros meses de contágio.
As experiências, por sua vez, foram majoritariamente positivas, mesmo em um ambiente assustador como uma pandemia. De fato, houve um aumento de relatos positivos. Um terço dos usuários disse ter sentido mais amor e compaixão com si mesmos e com os outros, maior solidariedade com o mundo e muitos insights profundos. As duas substâncias mais ingeridas foram o LSD e a psilocibina.
Para concluir, dois terços dos voluntários disseram que os psicodélicos os ajudaram a lidar melhor com o medo da pandemia. Não é a primeira vez que estudos mostram que essas substâncias ajudam a encarar situações difíceis – como o fim da vida, doenças terminais, traumas – com mais leveza.