Um artigo publicado em maio de 2021 no Journal of Antibiotics pelo pesquisador David Nichols, da Universidade da Carolina do Norte, reconta a intrigante história dos cogumelos mágicos – de seu uso por sociedades pré-Colombianas à revolução psicodélica que vêm protagonizando nos últimos anos.
Os primeiros registros do cogumelo no mundo ocidental foram feitos pelo frei franciscano espanhol Bernardino de Sahagún que, em 1529, viajou para o México recém-invadido. Lá, ele entrou em contato com os astecas e passou mais de 50 anos estudando sua cultura – o idioma, os ritos e hábitos – e compilou tudo em uma obra de mais de 2400 páginas. Nelas, há a citação frequente a uma tal de “teonanacatl”: a “carne de deus” na língua asteca. Eram os cogumelos mágicos.
De acordo com o artigo, missionários espanhóis então passaram séculos tentando esconder a existência dos rituais – com grande sucesso. Os cogumelos mágicos só voltaram a ser discutidos nos EUA já no século 20, quando exploradores descobriram os escritos do frei Bernardino e partiram para o México em busca da substância misteriosa. Na década de 1930, pesquisadores da Universidade Harvard tentaram levar os cogumelos para os EUA, e até participaram de rituais mexicanos.
Foi apenas nos anos 1960, quando dois micólogos amadores chamados Valentina e Gordon Wasson, que também era banqueiro em NY, foram para Oaxaca juntamente com um fotojornalista da revista Life e registraram os ritos ancestrais, que o mundo parou para prestar atenção. A revista publicou as imagens das viagens psicodélicas, e mais e mais pessoas passaram a se interessar pelos cogumelos do gênero Psilocybe. Wasson mandou um exemplar para o químico suíco Albert Hofmann – e o resto é história.
Hofmann notoriamente ingeriu os cogumelos por conta própria para comprovar seus efeitos psicodélicos e, então, passou a tentar isolar o componente ativo dos fungos. Como se sabe, ele foi bem-sucedido: nascia assim a psilocibina. E é ela – que já transformava sociedades milenares muito antes do Ocidente saber que havia continentes do outro lado do Atlântico – que agora parece estar revolucionando a forma como entendemos a mente humana.