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Em votação histórica, Colorado legaliza os cogumelos mágicos

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Por uma margem de votos apertadíssima, o estado norte-americano do Colorado decidiu legalizar o consumo dos chamados cogumelos mágicos e de seu princípio ativo, a psilocibina, nas eleições de meio de mandato realizadas em 8 de novembro de 2022. Com 51% dos votos, a população aprovou uma proposta de lei que autoriza pessoas acima de 21 anos a cultivar, consumir e compartilhar os cogumelos. A mesma emenda também autoriza a criação de “centros de tratamento”, instituições regulamentadas pelo estado nas quais a população poderá ingerir psilocibina para tratar questões de saúde mental. Ao contrário da maconha, que já foi legalizada no estado há uma década, a psilocibina não poderá ser comercializada em lojas comuns.

“Os eleitores do Colorado identificaram os benefícios do acesso controlado a remédios naturais, incluindo a psilocibina, para ajudar a curar pessoas com estresse pós-traumático, doenças terminais, depressão, ansiedade e outras questões de saúde mental”, disseram Kevin Matthews e Veronica Lightening Horse Perez, autores da proposta.

A campanha pela legalização da substância recebeu US$ 4,5 milhões da Natural Medicine Colorado, uma instituição que luta pelo acesso legal a espécies de plantas e fungos que foram criminalizadas. A oposição à emenda foi feita por uma associação chamada “Proteja as Crianças do Colorado” (Protect Colorado’s Kids) e arrecadou apenas US$ 51 mil.

A emenda, chamada de Proposition 122, também vai possibilitar que os centros de tratamento passem a oferecer outros tipos de psicodélicos a partir de 2026: a ibogaína, a mescalina e o DMT. A expectativa é que os primeiros centros possam começar a funcionar em 2024. 

Algumas dúvidas em relação ao porte de psilocibina, porém, continuam. Não se sabe, por exemplo, qual vai ser a quantidade máxima de cogumelos que uma pessoa poderá portar ou distribuir, o que deve ficar a critério das cortes judiciais. Isso pode abrir margem para futuras (e longas) discussões, como as que ocorreram no Oregon, o primeiro estado a legalizar os cogumelos nos EUA em 2020, e que levou dois anos para definir os detalhes de regulamentação.

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Cogumelos mágicos para dores fantasma

phaneros cogumelos dor fantasmaPassar por uma amputação pode ser um evento traumático. Para piorar, cerca de 95% das pessoas amputadas sentem a chamada “dor fantasma” – uma dor aguda e persistente no lugar do membro operado. Tratamentos para ela, no entanto, são raros e pouco eficientes.

Mas um artigo publicado em 2018 na revista Neurocase pelo reconhecido cientista Vilayanur Ramachandran, autor do livro “Fantasmas no Cérebro”, aponta para uma terapia promissora à base de psilocibina, substância dos “cogumelos mágicos”. A pesquisa descreve o caso do paciente “AL”, um homem com fortes dores fantasma na perna amputada, que também sentia outras sensações no local, como toques, calor e picadas. Quando uma perna alheia era posicionada no lugar em que a dele deveria estar, e então recebia uma massagem, por exemplo, AL também sentia o toque, em uma espécie de “efeito espelho”.

A grande novidade ocorreu quando o paciente tomou psilocibina e passou por experimentos visuais baseados nesse efeito espelho. Uma das maiores queixas de AL era que ele ainda sentia os pinos cirúrgicos inseridos na sua perna antes da amputação. Sob efeito da psilocibina, então, AL assistiu a um voluntário simulando que estava retirando uma antena retrátil da perna (para imitar os pinos) e sentiu o mesmo acontecendo com seu membro amputado. AL passou três vezes pelo tratamento e, como consequência, relatou uma queda significativa na dor até meses depois.

Foi com base em relatos como o de AL que pesquisadores agora querem ampliar os testes com psilocibina e dores fantasmas. O Psychedelics and Health Research Initiative, da Universidade Califórnia San Diego, recebeu em fevereiro de 2021 um investimento de US$ 1,3 milhão para investigar esse tipo de tratamento. Trinta voluntários amputados passarão por estudos clínicos de três anos, baseados no procedimento desenvolvido por Ramachandran.

A esperança é que a psilocibina não aja como os analgésicos tradicionais, que precisam ser ingeridos regularmente. Em vez disso, cientistas esperam que ela possa atuar quase como uma “cura”, modificando os circuitos cerebrais responsáveis pela dor fantasma.

Curadoria: UC Sam Diego Health