Na comunidade científica psicodélica, é comum o argumento de que não seria relevante ou necessário estudar as experiências místicas (EMs) que costumam acompanhar o uso dessas substâncias a fim de entender seu papel terapêutico. No entanto, a tentativa de retirar o misticismo da ciência psicodélica é, no mínimo, uma tendência que não faz jus à profundidade e à complexidade do tópico. Esse é o argumento central de Joost Breeksema e Michiel van Elk, cientistas da Leiden University, em um artigo publicado em julho de 2021.
Os pesquisadores argumentam que o reconhecimento da complexa variedade de “estranhezas” das experiências psicodélicas deveria estar no cerne de qualquer programa de pesquisa minimamente sério sobre o tópico. Os autores também destacam a rica tradição de ferramentas científicas para estudar EMs, e a sua relevância para a compreensão dos efeitos terapêuticos dos psicodélicos.
Ferramentas como o Questionário de Experiência Mística (MEQ) e a Escala das 5 Dimensões de Estados Alterados de Consciência (5D-ASC) têm se mostrado valiosas no mapeamento da fenomenologia induzida por psicodélicos. Ao lado dessas escalas padronizadas, os métodos de pesquisa qualitativa são particularmente úteis para estudar as experiências, usando técnicas como entrevistas em profundidade, observação participante e microfenomenologia, que ajudam a explorar o que foi vivido em detalhes mais precisos.
Um número crescente de pesquisadores interessados no potencial terapêutico dos psicodélicos busca categorizar as EMs enquanto “efeitos colaterais” completamente irrelevantes. Outros, no entanto, apontam para a relevância da experiência subjetiva. Embora esse debate ainda não esteja terminado, vale ressaltar a importância do contexto cultural, tanto para levar (ou não) em consideração essas experiências, quanto para entender sociedades que questionam até mesmo a divisão entre místico/ordinário ou transcendente/imanente.