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Harvard lança primeiro centro para discutir questões legais dos psicodélicos

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Com o avanço das pesquisas nos anos recentes e a regulamentação de seu uso, principalmente nos EUA, os psicodélicos vêm invadindo não só os laboratórios científicos, mas também os escritórios de advocacia. Como as cortes devem lidar com esse tipo de substância? Como devem ser classificadas? O que configura uma nova droga? Foi com o intuito de resolver as encruzilhadas legais que acompanham a renascença psicodélica que a Faculdade de Direito da Universidade Harvard resolveu criar o primeiro centro de estudos jurídicos dedicado exclusivamente ao assunto, o Project on Psychedelics Law and Regulation, ou POPLAR.

O centro, porém, não vai focar as suas atividades em discutir o status legal desse tipo de substância – como regulamentá-los ou descriminalizá-los, por exemplo. Em vez disso, o POPLAR deverá debater as questões das patentes psicodélicas e a cobertura de tratamentos por seguros de saúde, por exemplo. São perguntas muito mais difíceis de serem respondidas do que “psicodélicos deveriam ser ilegais?”. Por exemplo: a partir de qual mudança molecular uma substância pode ser considerada nova e, por consequência, patenteada e comercializada por uma grande empresa? Ou de que maneira comunidades indígenas podem alegar conhecimento tradicional anterior? 

“Os desafios associados a psicodélicos e propriedade intelectual são especialmente importantes porque eles podem moldar o ecossistema inteiro e toda a indústria pelas próximas décadas”, disse à revista Vice um dos principais patrocinadores do POPLAR, o filantropo Tim Ferriss.

Outro grande debate que deve surgir nos próximos anos, à medida que os tratamentos psicodélicos se popularizarem, é: quem vai pagar por eles? Por enquanto, esse tipo de terapia está longe de ser coberta universalmente por convênios médicos – mas não é difícil de imaginar que a pressão sobre os seguros aumente em breve.

Como tudo que envolve indústrias potencialmente bilionárias e os interesses de grandes empresas, iniciativas como a POPLAR realmente vêm em boa hora.

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Agência americana de combate às drogas agora quer aumentar a produção de psicodélicos para pesquisa

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Sim, foi isso mesmo que você leu. A Drug Enforcement Administration (DEA), a agência do governo dos EUA que combate o consumo e o tráfico de drogas, lançou essa semana uma nota propondo um aumento substancial na produção de psilocibina (o princípio ativo dos chamados cogumelos mágicos) e de maconha, para que possam ser usados em estudos científicos. As duas substâncias, no entanto, continuam classificadas como de “schedule I” pela própria agência – ou seja, ilegais e “sem nenhum uso medicinal aceito”.

O anúncio foi recebido por especialistas de forma controversa, com críticas e aprovação. Por um lado, houve quem visse na decisão da DEA um visível afrouxamento e uma disposição de reavaliar as classificações históricas dessas drogas. O fato de a agência querer disponibilizar maiores quantidades dessas substâncias para os centros de pesquisa científicos representa, de fato, uma mudança. “O aumento reflete a necessidade de realizar pesquisas, a fim de desenvolver potenciais novos medicamentos”, disse o anúncio feito essa semana. Ou seja, a própria DEA coloca no horizonte a possibilidade de essas substâncias se tornarem tratamentos reconhecidos e legalizados nos próximos anos.

Por outro lado, críticos apontaram a hipocrisia na decisão de autorizar a produção legal de maconha e psilocibina, sem no entanto alterar seu status legal. Trata-se de uma “estratégia desesperada da DEA para justificar sua própria existência, em um mundo no qual ela se tornou uma instituição obviamente obsoleta”, escreveu no Twitter o Psychedelic Stock Watch, uma agência de notícias que ajuda patrocinadores e empresas a investir no mundo dos psicodélicos

De acordo com a nova medida, a DEA vai permitir a produção de quase 2 toneladas de maconha, além de 1500 gramas de psilocibina – um aumento de 33% e 2900%, respectivamente, em relação ao ano anterior. No meio dessa discussão, fica a ciência, que certamente vai se beneficiar com o incentivo para pesquisas futuras.

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Esquizoanálise e Psicoterapia com Psicodélicos

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A esquizoanálise é uma abordagem terapêutica que surgiu a partir da produção conjunta do psicanalista Félix Guattarri e do filósofo Gilles Deleuze. Essa abordagem – que também é vista como um campo de saberes mais amplo, atravessando arte, filosofia e antropologia – tem ao mesmo tempo semelhanças e distanciamentos importantes da teoria psicanalítica, sua principal influência.

Na medida que os estudos clínicos com psicodélicos avançam, mais profissionais de formação esquizoanalítica têm se interessado pelo tema, certamente com muito a contribuir, principalmente com seu olhar diferenciado para o corpo, para as artes e para a importância do coletivo, com suas implicações políticas e comunitárias.

Nesta quinta-feira, na Comunidade Phaneros, teremos uma aula sobre Esquizoanálise e seus possíveis diálogos com a Psicoterapia Assistida por Psicodélicos. A aula será apresentada por três colegas – Alexander Ruas, Vinicius Corrêa e Isabella Cassane – que integram o grupo, juntamente com mais de 400 pessoas interessadas em estudar os psicodélicos de forma séria e aprofundada.

A Comunidade Phaneros é um grupo de estudos com encontros semanais sobre temas ligados a psicodélicos e com abertura de pensamento para as diversas escolas de psicoterapia. Em encontros anteriores já tivemos apresentações sobre Psicologia Analítica, Psicanálises, Comportamentais e Abordagem Centrada na Pessoa. Muitas outras abordagens ainda estão por vir.

Se você se interessa pelo tema e gostaria de pertencer a este ambiente de trocas de conhecimento, acompanhe a nossa página e não perca o próximo período de inscrições!

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Médicos estão preparados para os psicodélicos?

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Um artigo publicado essa semana no jornal americano L.A.Times, assinado por Rick Doblin, fundador da nossa parceira @mapsnews, e por Jennifer Altman, co-fundadora do Stanford Psychedelic Science Group, resolveu fazer a pergunta acima. Com resultados cada vez mais promissores em estudos clínicos e um número crescente de interessados em psicodélicos, será que os profissionais da área da saúde estão prontos para cuidar de quem ingere essas substâncias? Para os autores, a resposta é um “não” estrondoso.

O argumento principal é que pouco importa se psicodélicos já estão legalizados ou não – as pessoas estão se interessando pelo assunto e começando a ingeri-los por conta própria. Os autores lembraram de duas pesquisas recentes para ressaltar que o número de interessados em psicodélicos só tende a crescer. 

A primeira, que deu MDMA a voluntários que sofriam de estresse pós-traumático e mostrou que dois terços deles haviam se curado dois meses depois. A outra, que prescreveu psilocibina (o princípio ativo dos cogumelos mágicos) para pessoas que sofriam de depressão e ansiedade por consequência de terem sido diagnosticadas com doenças gravíssimas. Nessa, 80% dos pacientes haviam registrado melhoras significativas seis meses depois. 

Doblin e Altman ressaltam que psicodélicos não são tóxicos e geralmente não causam reações adversas perigosas – mas que podem gerar experiências emocionais intensas, positivas e negativas. Essas substâncias podem também causar surtos psicóticos em quem tiver predisposição. Por tudo isso, é essencial que médicos saibam com o que estão lidando quando seus pacientes ingerirem psicodélicos.

A solução para esse impasse é treinamento e ações educativas voltadas a médicos e profissionais da saúde. Foi para atender justamente a essa demanda que o Instituto Phaneros também criou o seu próprio curso, aqui no Brasil: Psicodélicos e Saúde Mental. Entre no nosso site e matricule-se já!

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Legalização de psicodélicos na Califórnia é adiada para o ano que vem

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Já havíamos levantado a possibilidade na semana passada, mas agora a suspeita se confirmou: membros do poder legislativo do estado da Califórnia decidiram adiar para o ano que vem a votação sobre a legalização de substâncias psicodélicas. 

A medida foi apoiada até mesmo pelo proponente da nova lei, o senador estadual Scott Wiener, do partido democrata. Apesar de se declarar “decepcionado” com o adiamento, Wiener também afirmou ser necessário mais tempo “para criar bases educacionais, com deputados e senadores, e também com o público, para garantir o sucesso da proposta. Com o adiamento, poderemos capitalizar o impulso que a lei ganhou este ano para criar apoio no ano que vem”. Wiener também lembrou que a proposta de regulamentação avançou muito mais do que se antecipava.

De fato, a nova lei já havia passado pelo Senado estadual, e pelas comissões de saúde pública e de segurança da assembleia legislativa da Califórnia. O poder legislativo do estado mais populoso dos EUA tem duas casas – uma assembleia e um Senado – e para que uma nova lei possa ser aprovada por lá a proposta deve passar pelas duas. 

Se o projeto virar lei em 2022, cidadãos californianos com mais de 21 anos não poderão mais ser processados criminalmente por portar cogumelos mágicos, DMT, ibogaína, LSD ou MDMA. A ketamina, que inicialmente fazia parte da lista de psicodélicos que seriam legalizados, foi excluída em debates posteriores. Outra mudança recente no texto se deu em relação à quantidade limite que os cidadãos poderão portar de cada substância: 2 gramas de DMT, 0,01 grama de LSD, ou 2 gramas de psilocibina, por exemplo. 

“Descriminalizar os psicodélicos é um passo importante para dar um fim à falida guerra às drogas, e nós estamos comprometidos com essa luta. A crise da saúde mental está pior do que nunca e os psicodélicos se mostraram promissores para tratar transtornos mentais, de estresse pós-traumático a ansiedade e depressão”, disse Scott Wiener na declaração oficial desta semana.

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Esta semana na Comunidade: o documentário Psychedelia

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As experiências místicas sempre estiveram presentes ao longo da história humana, em todas as culturas e tradições espalhadas pelo mundo. Ao longo das décadas, debateu-se longamente  se os psicodélicos poderiam trazer experiências semelhantes às místicas/religiosas. Embora o termo “místico” possa parecer contrário à ciência, alguns estudos científicos resolveram investigar justamente esse aspecto humano, como o famoso “experimento da Sexta-Feira Santa” de 1962 – no qual voluntários ingeriram psilocibina dentro de uma capela para investigar os efeitos da substância -, e sua re-edição em 2006 pela equipe da Johns Hopkins University.

As experiências místicas têm características bem descritas, e existem até mesmo escalas científicas para avaliá-las. Alguns dos eventos mais comuns registrados  são a sensação de unidade com o mundo e a dissolução da noção de tempo e espaço. São temas que aparecem nas mais diferentes tradições religiosas do planeta, seja nas escrituras, na tradição oral ou em rituais – e sabemos que também ocorrem frequentemente sob o efeito de psicodélicos. 

O documentário Psychedelia, de Pat Murphy, apresenta estudos sobre experiências místicas por meio  de um panorama histórico e entrevistas com pacientes. Ele mostra também que este tipo de vivência pode trazer benefícios no tratamento de dependência química, ansiedade e depressão em pacientes de doenças terminais, por exemplo. 

Entender as especificidades destas experiências, auxiliar pacientes que as vivenciaram e aumentar o potencial terapêutico são os objetivos centrais dos profissionais da Comunidade Phaneros.

A Comunidade Phaneros é um grupo de estudos formado por mais de 400 membros, que discute semanalmente temas relacionados a psicodélicos. Nesta quinta-feira conversaremos sobre o documentário Psychedelia, escolhido em votação pelos membros do grupo, dentre três opções possíveis. 

Se você também quer participar da Comunidade Phaneros, acompanhe a nossa página e aproveite o próximo período de inscrições!

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EUA recrutaram nazistas para fazer testes psicodélicos em população negra encarcerada

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Uma das menos conhecidas – e mais vergonhosas – histórias da pesquisa psicodélica ao longo do século 20 foi descrita agora em um artigo publicado no Journal of Medical Ethics, de julho de 2021. Os autores, liderados pela psicóloga da Universidade de Ottawa Dana Strauss, examinaram pesquisas publicadas em meados do século passado e concluíram: psicodélicos foram usados em experimentos organizados pela CIA para serem testados como “soro da verdade” para programas de espionagem da Guerra Fria. E pior: para isso, os EUA contrataram fugitivos nazistas alemães que haviam desenvolvido armas químicas para o Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial.

O programa da CIA – a central de inteligência americana – se chamava “MKUltra” e tinha como objetivo alcançar o “controle da mente” e a “lavagem cerebral” de seus inimigos soviéticos, além do tal “soro da verdade”. Para isso, a agência contratou 1600 médicos e cientistas alemães logo depois da Segunda Guerra – entre eles 15 nazistas de alto escalão, dos quais 6 haviam ido a julgamento em Nuremberg por crimes de guerra. 

Os testes com psicodélicos nos EUA foram conduzidos na população carcerária, que era composta principalmente por negros e latinos. Muitos deles tinham histórico de doenças mentais como a esquizofrenia – justamente o tipo de paciente que não deve ingerir psicodélicos. 

Os participantes foram compelidos a ingerir dosagens altíssimas das substâncias, principalmente de LSD. Alguns foram amarrados durante os testes, outros (entre eles, mulheres) defecavam em si mesmos, muitos se diziam aterrorizados. Apesar de tudo isso, os “médicos” seguiram ministrando as drogas, entre elas mescalina e psilocibina. Não é exagero classificar essas sessões como tortura. 

Conhecer esse passado vergonhoso da pesquisa psicodélica é importante, justamente agora, quando especialistas passaram a questionar a baixa representatividade de pacientes e cientistas negros e de outras minorias étnicas e sociais nas pesquisas atuais.

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Legalização de psicodélicos na Califórnia passa por momento crucial

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Depois de ter passado pelo Senado estadual, e pelas comissões de saúde pública e de segurança da assembleia legislativa da Califórnia, a proposta de lei que pretende descriminalizar os psicodélicos no estado mais populoso dos EUA vai passar por um teste de fogo na semana que vem. No dia 26 de agosto, o comitê de apropriações da assembleia (Assembly Appropriations Committee) vai debater e decidir se a ementa seguirá para ser votada este ano, ou se a pauta será congelada – possivelmente para sempre. 

Antes, um preâmbulo: o poder legislativo da Califórnia tem duas casas – uma assembleia e um Senado – e para que uma nova lei possa ser aprovada por lá a proposta deve passar pelas duas. Se o comitê da semana que vem aprovar a nova lei, a proposta voltará para as duas casas, para que as alterações no texto original sejam endossadas. Se o processo todo for votado sem nenhuma dificuldade – o que é possível, mas pouco provável – a legalização dos psicodélicos ainda poderá ser aprovada este ano. O cenário positivo mais realista, porém, indica que a aprovação final deva vir no ano que vem.

Mas há a possibilidade também de o comitê de apropriações resolver manter o projeto “em suspenso”. Na prática, isso acabaria matando a nova lei, impedindo que ela siga sendo votada. 

A mudança no status legal foi originalmente proposta pelo senador democrata Scott Wiener, que já admitiu ser “bastante desafiador” o caminho para a legalização dos psicodélicos daqui para frente.

Se a lei for aprovada por todas as instâncias, qualquer cidadão californiano com mais de 21 anos não poderá mais ser processado criminalmente por portar cogumelos mágicos, DMT, ibogaína, LSD ou MDMA. Uma das mudanças recentes no texto se deu em relação à quantidade-limite que os cidadãos poderão portar de cada substância: 2 gramas de DMT, 0,01 grama de LSD, ou 2 gramas de psilocibina, por exemplo. O que nos resta agora é esperar para ver o veredito do dia 26.

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Journal Club: Placebo e Psicodélicos

 

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O efeito placebo tem uma enorme importância na área da medicina e, quando falamos de saúde mental, não é diferente. O efeito se refere a pacientes melhorarem de suas doenças ou sofrimentos devido à expectativa de cura – e não aos efeitos farmacológicos das substâncias ingeridas. O exemplo clássico que se dá para explicar os placebos é quando um paciente melhora após tomar uma pílula de farinha que ele acreditava ser medicação.

Com o passar dos anos, cientistas foram desenvolvendo desenhos experimentais – ou seja, formas de conduzir estudos – com o objetivo de  separar os efeitos farmacológicos dos efeitos causados pelas expectativas pessoais dos pacientes e até mesmo dos profissionais. 

No entanto, quando falamos de psicodélicos, essa questão se torna bastante complexa, uma vez que, com esse tipo de substância o paciente muitas vezes é capaz de identificar se tomou placebo ou não, gerando o que chamamos de “desmascaramento”.

Assim surgem os questionamentos: o padrão dos estudos clínicos para psicodélicos deveria ser diferente? É possível criar uma substância que gere os mesmos efeitos subjetivos, sem o efeito terapêutico para ser usado de placebo? Quais as bases epistemológicas por trás do objetivo de replicar o modelo de outras áreas da saúde para a ciência psicodélica?

Essas e outras perguntas são discutidas semanalmente na Comunidade Phaneros. Os encontros semanais para o debate de temas relacionados aos psicodélicos ocorrem toda quinta-feira e, nesta semana, os membros irão conversar sobre placebo e psicodélicos. Para isso, o Instituto Phaneros apresentou ao grupo 3 artigos científicos e os mais de 400 membros da Comunidade puderam votar, saindo vencedor o artigo de nosso diretor, @ee_schenberg, publicado ontem na Expert Review of Clinical Pharmacology: “Who is blind in psychedelic research?”

Você também quer participar da Comunidade futuramente? Acompanhe a nossa página e não perca o próximo período de inscrição!  

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Uma breve história da psilocibina

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Um artigo publicado em maio de 2021 no Journal of Antibiotics pelo pesquisador David Nichols, da Universidade da Carolina do Norte, reconta a intrigante história dos cogumelos mágicos – de seu uso por sociedades pré-Colombianas à revolução psicodélica que vêm protagonizando nos últimos anos. 

Os primeiros registros do cogumelo no mundo ocidental foram feitos pelo frei franciscano espanhol ​​Bernardino de Sahagún que, em 1529, viajou para o México recém-invadido. Lá, ele entrou em contato com os astecas e passou mais de 50 anos estudando sua cultura – o idioma, os ritos e hábitos – e compilou tudo em uma obra de mais de 2400 páginas. Nelas, há a citação frequente a uma tal de “​​teonanacatl”: a “carne de deus” na língua asteca. Eram os cogumelos mágicos.

De acordo com o artigo, missionários espanhóis então passaram séculos tentando esconder a existência dos rituais  – com grande sucesso. Os cogumelos mágicos só voltaram a ser discutidos nos EUA já no século 20, quando exploradores descobriram os escritos do frei Bernardino e partiram para o México em busca da substância misteriosa. Na década de 1930, pesquisadores da Universidade Harvard tentaram levar os cogumelos para os EUA, e até participaram de rituais mexicanos. 

Foi apenas nos anos 1960, quando dois micólogos amadores chamados Valentina e Gordon Wasson, que também era banqueiro em NY, foram para Oaxaca juntamente com um fotojornalista da revista Life e registraram os ritos ancestrais, que o mundo parou para prestar atenção. A revista publicou as imagens das viagens psicodélicas, e mais e mais pessoas passaram a se interessar pelos cogumelos do gênero Psilocybe. Wasson mandou um exemplar para o químico suíco Albert Hofmann – e o resto é história. 

Hofmann notoriamente ingeriu os cogumelos por conta própria para comprovar seus efeitos psicodélicos e, então, passou a tentar isolar o componente ativo dos fungos. Como se sabe, ele foi bem-sucedido: nascia assim a psilocibina. E é ela – que já transformava sociedades milenares muito antes do Ocidente saber que havia continentes do outro lado do Atlântico – que agora parece estar revolucionando a forma como entendemos a mente humana.