Eduardo Schenberg

Eduardo Schenberg sugere cautela sobre microdosagens

Eduardo Schenberg

 

O jornal Folha de São Paulo @folhadespaulo publicou esta semana, no feriado de 12 de outubro, uma reportagem sobre um comportamento que vêm se espalhando pelo Brasil: a microdosagem, o hábito de consumir doses baixíssimas de psicodélicos, especificamente a psilocibina dos chamados cogumelos mágicos, para tratar de forma caseira sintomas de ansiedade. O presidente do Instituto Phaneros, Eduardo Schenberg, PhD, foi convidado a comentar o hábito.

No Brasil, quem pratica a microdosagem compra os cogumelos em estado bruto pela internet e consome-os por conta própria. A Folha entrevistou duas dessas pessoas, que declararam estar se sentindo melhor dos sintomas da ansiedade. Apesar desses relatos, os efeitos positivos da microdosagem estão longe de serem consenso científico. “Os estudos científicos vão mostrando cada vez mais que quando se faz um estudo duplo cego —em que algumas pessoas vão receber a microdose e outras não, sem elas saberem quem está recebendo ou não— praticamente não há diferenças detectáveis entre os grupos. Isso é geralmente chamado de efeito placebo”, disse Eduardo à Folha, enfatizando que pacientes com depressão não devem substituir seus tratamentos atuais, seja antidepressivo ou psicoterapia, por microdoses.

Outra entrevistada pelo jornal, Carla Bicca, vice-coordenadora da Comissão de Adicções da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) ressaltou os possíveis efeitos colaterais dos psicodélicos: “Essas drogas do jeito que estão vindo, meio empurradas pela cultura, são muito perigosas. As pessoas mais vulneráveis mentalmente têm mais risco, por exemplo, de psicotizar com a psilocibina”.

A reportagem também explica que os benefícios mais evidentes da psilocibina vêm sendo observados em sessões de Psicoterapia Assistida por Psicodélicos (PAPs), nas quais a dosagem é bem maior e onde os pacientes são acompanhados por psicoterapeutas especializados. Para tanto, o jornal deu destaque ao trabalho do Instituto Phaneros, que, além de produzir conteúdo educativo para profissionais de saúde, há anos conduz pesquisas com a PAP, e que está com novos testes clínicos com psicodélicos aprovados na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. 

Link:

https://bit.ly/PHANEROS-P89

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Cogumelos mágicos para dores fantasma

phaneros cogumelos dor fantasmaPassar por uma amputação pode ser um evento traumático. Para piorar, cerca de 95% das pessoas amputadas sentem a chamada “dor fantasma” – uma dor aguda e persistente no lugar do membro operado. Tratamentos para ela, no entanto, são raros e pouco eficientes.

Mas um artigo publicado em 2018 na revista Neurocase pelo reconhecido cientista Vilayanur Ramachandran, autor do livro “Fantasmas no Cérebro”, aponta para uma terapia promissora à base de psilocibina, substância dos “cogumelos mágicos”. A pesquisa descreve o caso do paciente “AL”, um homem com fortes dores fantasma na perna amputada, que também sentia outras sensações no local, como toques, calor e picadas. Quando uma perna alheia era posicionada no lugar em que a dele deveria estar, e então recebia uma massagem, por exemplo, AL também sentia o toque, em uma espécie de “efeito espelho”.

A grande novidade ocorreu quando o paciente tomou psilocibina e passou por experimentos visuais baseados nesse efeito espelho. Uma das maiores queixas de AL era que ele ainda sentia os pinos cirúrgicos inseridos na sua perna antes da amputação. Sob efeito da psilocibina, então, AL assistiu a um voluntário simulando que estava retirando uma antena retrátil da perna (para imitar os pinos) e sentiu o mesmo acontecendo com seu membro amputado. AL passou três vezes pelo tratamento e, como consequência, relatou uma queda significativa na dor até meses depois.

Foi com base em relatos como o de AL que pesquisadores agora querem ampliar os testes com psilocibina e dores fantasmas. O Psychedelics and Health Research Initiative, da Universidade Califórnia San Diego, recebeu em fevereiro de 2021 um investimento de US$ 1,3 milhão para investigar esse tipo de tratamento. Trinta voluntários amputados passarão por estudos clínicos de três anos, baseados no procedimento desenvolvido por Ramachandran.

A esperança é que a psilocibina não aja como os analgésicos tradicionais, que precisam ser ingeridos regularmente. Em vez disso, cientistas esperam que ela possa atuar quase como uma “cura”, modificando os circuitos cerebrais responsáveis pela dor fantasma.

Curadoria: UC Sam Diego Health