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Um fim nas ruminações: por que os psicodélicos funcionam

phaneros psicodélicos funcionamOs últimos anos têm testemunhado uma verdadeira onda de pesquisas científicas indicando que substâncias psicodélicas como o MDMA, a psilocibina (dos cogumelos mágicos), o LSD e a DMT (encontrada na ayahuasca) possam ser surpreendentemente eficientes para tratar distúrbios mentais. A lista de males que parecem responder bem aos tratamentos psicodélicos é imensa: vai da depressão ao estresse pós-traumático, do vício ao medo da morte em doenças terminais.

Mas por que essas substâncias parecem ajudar justamente nesses casos? O que todos esses distúrbios têm em comum é um grande componente mental e internalizante, de padrões de pensamentos repetitivos, que agravam os quadros. É o que os cientistas chamam de “ruminações” – pensamentos em círculo viciante.

Pacientes com trauma, por exemplo, tendem a reviver os eventos dolorosos que testemunharam e não conseguem quebrar o ciclo das memórias traumáticas. Quem tem depressão costuma pensar nos fracassos que viveu, e se afunda em autocrítica e culpa. Viciados ficam muito tempo pensando quando e como vão conseguir consumir de novo aquilo que necessitam.

Pesquisas com neuroimagem indicam que os psicodélicos possam agir justamente nos sistemas e circuitos cerebrais que controlam os pensamentos e comportamentos repetitivos. A experiência psicodélica muitas vezes inclui grandes “insights” ou revelamentos sobre a vida que, com a ajuda de acompanhamento psicoterapêutico, podem ajudar a recalibrar as associações de pensamentos negativos.

A hipótese foi descrita no artigo “The current Status of Psychedelics in Psychiatry” publicado na revista JAMA Psychiatry em julho de 2020. Trata-se apenas de uma possibilidade, mas seria uma forma de explicar por que esse tipo de tratamento funciona mesmo em durações curtas e esporádicas – sem a necessidade da ingestão contínua, como são os remédios psiquiátricos tradicionais.

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O poder dos arquétipos na Psicoterapia Assistida por Psicodélicos

psicoterapia phanerosO conceito de arquétipos se popularizou no século XX, graças ao trabalho do suíço Carl Gustav Jung. Jung foi um psiquiatra e psicanalista discípulo de Sigmund Freud, que fundou sua própria abordagem, a Psicologia Analítica. A palavra é formada pelos radicais “arché” e “tipós”, que significam respectivamente “princípio/primordial” e “tipo/marca”. Assim, o arquétipo seria uma espécie de “modelo ou forma primordial”.

Ao observar o simbolismo presente nas narrativas, fantasias e sonhos dos pacientes, Jung notou que havia neles uma semelhança estrutural com mitos e narrativas de outros povos e etnias do planeta. Embora seus pacientes não tivessem contato direto ou conhecimento sobre os outros povos, curiosamente, histórias semelhantes se revelavam nas suas psiques.

Jung dizia que os arquétipos são a tendência que temos de formar representações de temas importantes. Embora essas representações apresentem diferenças nos detalhes, há um padrão básico que se mantém nos temas, tais como nascimento, morte, maternidade etc.

Na Psicoterapia Assistida por Psicodélicos, frequentemente os pacientes vivenciam imagens e processos arquetípicos. Portanto, ainda que a PAP não se restrinja apenas a profissionais da psicologia analítica, esse conhecimento é valioso para os terapeutas, principalmente nas sessões de integração.

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Psilocibina: tão eficiente para depressão que nem parece verdade

Psilocibina artigo blog PhanerosImagine um antidepressivo capaz de resolver 70% dos casos graves em apenas duas doses de medicamento, acompanhadas por sessões de terapia?

Para qualquer pessoa que já tenha passado por um episódio de depressão, ou que conheça alguém nessa situação, parece uma história de ficção. Isso porque os remédios atualmente disponíveis no mercado nem sempre são eficientes para todos. Antidepressivos tradicionais costumam demorar de duas a seis semanas para fazer efeito. Isso quando fazem. Diversos estudos já mostraram que até metade dos usuários de antidepressivos comuns desenvolvem condições resistentes a tratamentos, além de causarem vários efeitos adversos.

Mas agora uma nova alternativa para esse transtorno psiquiátrico, que a OMS considera uma das doenças mais preocupantes do século 21, vem despontando como uma aposta promissora: a psilocibina, substância encontrada nos chamados “cogumelos mágicos”, do gênero Psilocybe.

Um novo estudo randomizado (no qual os participantes foram sorteados para começar o tratamento imediatamente ou dentro de oito semanas), realizado na Universidade Johns Hopkins, e publicado na prestigiada JAMA Psychiatry, mostrou taxas estrondosas de sucesso em tratar casos graves de depressão com psicoterapia assistida por psilocibina.

Os 24 pacientes receberam apenas duas cápsulas de psilocibina, com um intervalo de uma semana entre elas. Durante os marcantes efeitos psicoativos da substância – que é também um dos psicofármacos mais seguros conhecidos -, os pacientes passaram por 11 horas de psicoterapia, escutando música, acompanhados constantemente por dois terapeutas.

Os resultados, avaliados estatisticamente, são impressionantes: mais de dois terços dos pacientes tiveram melhoras quase imediatas e persistentes por até 8 semanas. Os estudos com a psilocibina já estão em Fase 2, em que a segurança e a eficácia são testadas, e o método pode ser aprovado para uso clínico já nos próximos anos.

Curadoria: JamalNetwork.com

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Psicoterapia psicodélica para tratar os traumas da Covid

Phaneros covidUTIs lotadas. Hospitais de campanha montados à pressa. Doentes esperando por leitos, outros agonizando por falta de oxigênio. Poucos equipamentos de proteção. Se as cenas mais dramáticas da pandemia de Covid-19 estão sendo traumatizantes para nós, do público em geral, imagine para quem a enfrenta na linha de frente? Especialistas já contam com níveis altos de transtorno de estresse pós-traumático entre profissionais da área da saúde em geral. Não à toa, espera-se que as ciências psicodélicas foquem sua atenção na pesquisa para tratar esse transtorno.

Uma pesquisa preliminar feita na Noruega constatou que 28% dos profissionais da linha de frente por lá se encaixam no diagnóstico de estresse pós-traumático. Considerando que a investigação foi feita entre março e abril de 2020, espera-se um aumento nesse número.

As esperanças de encontrar novos tratamentos entre os psicodélicos são grandes. A substância mais promissora para tratar o trauma até agora é o MDMA, que, administrado juntamente com a psicoterapia, apresentou resultados rápidos e consistentes em estudos feitos ao redor do mundo – incluindo o nosso, aqui no Brasil, publicado em 2020 na Revista Brasileira de Psiquiatria.

Estima-se que tratar traumas com a ajuda da psicoterapia assistida por MDMA possa gerar uma economia de US $103,2 milhões ao longo de 30 anos. De tão animador, esse tipo de tratamento ganhou da FDA, a autoridade que regula medicamentos nos EUA, o selo de “terapia revolucionária” para o estresse pós-traumático, em 2017.

Já para a depressão que possa acometer os profissionais da saúde, a esperança de tratamento  está na psilocibina, substância extraída dos chamados “cogumelos mágicos”. Um estudo da Universidade Johns Hopkins mostrou que duas doses de psilocibina, juntamente com terapia, foram suficientes para reduzir rapidamente e de forma significativa os sintomas de depressão – uma melhora que persistiu quatro semanas depois do tratamento.

Fonte: Forbes Psychology Trends

NYU abre centro de pesquisa em medicina psicodélica

Chegou a hora da Universidade de Nova York (NYU, na sigla em inglês) ter o seu próprio centro de pesquisa dedicado à medicina psicodélica. Depois de angariar US$ 10 milhões em doações, o NYU Langone Center for Psychedelic Medicine vai abrir as portas. Metade desse dinheiro veio da empresa de biotech MindMed, que produz as substâncias.

Além de focar em psiquiatria, medicina e testes pré-clínicos, o novo instituto terá um programa de pesquisa em psicodélicos para acadêmicos em início de carreira, assim como para pós-doutores, que será incluída à NYU. “Se a medicina psicodélica continuar demonstrando seu grande potencial clínico, o volume de pesquisa na área seguirá explodindo. Vamos precisar de pesquisadores com experiência para conduzir os testes. Nosso centro ajudará a atender a essa necessidade”, disse Michael P. Bogenschutz, diretor do novo centro, em entrevista à revista Forbes, em fevereiro de 2021.

Mas o centro Langone não vai servir apenas a cientistas e acadêmicos. Terapeutas interessados em conduzir tratamentos para distúrbios mentais com a ajuda de psicodélicos poderão também ser treinados por lá.

A NYU não é novata no assunto. Atualmente, a universidade já abriga dois estudos em Fase 2 com psilocibina (substância extraída dos chamados cogumelos mágicos): um para tratar abuso de álcool, e outro para depressão. A pesquisa mais avançada está em um teste com MDMA para estresse pós-traumático, que já está em Fase 3.

O NYU Langone Center for Psychedelic Medicine é apenas mais um centro de estudos dedicado aos psicodélicos aberto nos últimos tempos. Em janeiro de 2021, foi a vez da faculdade de medicina Mount Sinai, também em Nova York, abrir um instituto. Lembrando que o Center for Psychedelic and Consciousness Research, da Universidade Johns Hopkins, que produz alguns dos mais importantes estudos sobre o assunto no mundo, tem apenas um ano de idade.

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LINK: https://www.forbes.com/sites/amandasiebert/2021/02/25/nyu-langone-establishes-center-for-psychedelic-medicine-with-10-million-from-mindmed-philanthropists/?sh=60a691492256 

A hora e a vez dos psicodélicos para tratar depressão

Elas são seguras, eficientes e baratas – então por que não usá-las para tratar a depressão, uma das doenças mais preocupantes do planeta? É isso que se perguntou a versão americana da revista Scientific American, na edição de janeiro de 2021, em um grande artigo sobre substâncias psicodélicas.

O foco da revista ficou nos chamados “psicodélicos serotonérgicos”: substâncias como o LSD, a psilocibina (extraída dos cogumelos mágicos) e a DMT (presente na ayahuasca), as mais usadas em pesquisas para tratar a depressão. Além de citar estudos conduzidos em diferentes países que apontam para a sua eficácia, a Scientific American também destacou a segurança, o efeito a longo prazo e o baixo custo desses tratamentos.

Primeiro, peguemos a segurança. Diversos estudos já indicaram que seus efeitos adversos são leves e passageiros na imensa maioria dos casos, e incluem náuseas, vômitos, percepção de ilusão ou sensação de medo passageira, além de eventuais alterações cardiovasculares, mas quase sempre nos limites da normalidade. Já os antidepressivos tradicionais, usados diariamente de forma crônica, alteram a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos e, contraditoriamente, podem até aumentar o risco de suicídio entre seus usuários.

Também não há relatos preocupantes de overdose de psicodélicos. A revista cita o caso de uma mulher que, sem querer, ingeriu uma dose 550 vezes maior do que o usual de LSD. Ela seguiu normalmente a vida e sequer precisou de atendimento médico – e mais: percebeu uma melhora significativa nas dores crônicas que tinha, e conseguiu até diminuir a quantidade de morfina que tomava. Como comparação, o álcool pode causar óbitos com doses 5 a 10 vezes maiores que as comuns.

Os psicodélicos também são capazes de gerar efeitos positivos a longo prazo nos pacientes. Um estudo de 2015 feito com 190 mil participantes concluiu que quem tem histórico de ter ingerido psicodélicos na vida corre um risco menor de desenvolver pensamentos suicidas ou de cometer suicídio.

E, para completar, ainda compensa no bolso. Uma pesquisa econômica, que avaliou os gastos e benefícios do MDMA para tratar traumas, chegou à conclusão que, ao longo de 30 anos, o tratamento com psicodélicos pode significar uma economia de US$ 100 mil para cada paciente.

É bom lembrar que as substâncias usadas em pesquisas e tratamentos médicos não são as mesmas ingeridas recreativamente, em festas ou baladas. Pelo contrário, são medicamentos puros, produzidos em laboratórios com controle de qualidade farmacêutica.

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Fonte: https://www.scientificamerican.com/article/psychedelics-as-antidepressants/

A obrigação moral de estudar os psicodélicos

Depois de terem passado décadas de castigo nos laboratórios do mundo, as substâncias psicodélicas voltaram a ser estudadas – e foram recebidas com interesse por cientistas e psiquiatras. LSD, MDMA, psilocibina (a substância extraída dos popularmente conhecidos “cogumelos mágicos”) e outros estão chamando a atenção das comunidades científicas para tratar justamente aquelas doenças que a medicina tem penado para contornar: os distúrbios mentais – principalmente o estresse pós-traumático, a depressão e o vício.

A revista americana Cerebrum de janeiro de 2021 entrevistou especialistas do Imperial College London, da Universidade da Califórnia San Diego, da Universidade Columbia, entre outros para comentar os sucessos dos psicodélicos, suas possíveis atuações sobre o cérebro humano – e também dos cuidados que devem ser tomados em sua administração.

É compreensível a vontade de promover cada vez mais estudos com essas substâncias: os resultados são simplesmente encorajadores demais. Um teste conduzido pela Universidade Johns Hopkins, em que pacientes com casos de depressão grave receberam psilocibina juntamente com sessões de terapia, resultou em efeitos positivos “impressionantes” em 70% dos voluntários. Esse é um desempenho dificilmente alcançado por antidepressivos tradicionais.

O acúmulo de pesquisas também está jogando luz sobre outro imenso desafio da ciência: entender o funcionamento do cérebro humano. Ao analisar os efeitos dos psicodélicos sobre os nossos neurônios, cientistas esperam também entender a função de certas redes cerebrais, como as que regulam os sentidos e a memória.

Um exemplo é um outro experimento da Johns Hopkins, feito com DMT, uma substância presente na Ayahuasca, no qual os pacientes relataram ter se conectado com deuses, anjos, fantasmas e outros seres espirituais. Os voluntários que descreveram essa experiência em seguida sentiram efeitos positivos e duradouros sobre si mesmos, seus humores, a vida e as outras pessoas. Assim, resta a pergunta: quais áreas do cérebro estão relacionadas a essas sensações espirituais – e como elas podem ajudar a tratar pessoas com depressão, por exemplo?

Claro que é preciso cautela no meio de tantas novidades. Uma moda recente sendo aderida principalmente no Vale do Silício, na Califórnia, é a microdosagem: o consumo de psicodélicos em doses muito pequenas, que supostamente aumentariam a criatividade e a produtividade. Não existe, porém, nenhuma prova de que esse tipo de consumo possa gerar esse efeito – ou que ele sequer seja seguro. Um dos pesquisadores entrevistados pela Cerebrum sugere que as sensações descritas não passem de placebo.

Ainda assim – somando os efeitos possivelmente nocivos aos resultados promissores e aos relatos de um bem-estar tão profundo dos pacientes – os autores da Cerebrum defendem: fazer pesquisas sérias e cuidadosas com os psicodélicos se tornou uma obrigação moral para a ciência.

LINK: https://online.flippingbook.com/view/362247/29/

Não, MDMA não causa danos no cérebro

O MDMA ainda sofre com a má fama causada por um estudo de quase 20 anos atrás. Quer entender como erros no fazer científico – e depois na sua divulgação – podem atrapalhar o avanço da medicina? Peguemos um dos exemplos mais escandalosos da literatura médica e farmacológica recente. Um artigo publicado em 2002 na mais aclamada revista científica do mundo, a Science, declarou: MDMA poderia causar graves danos ao cérebro.

A notícia disparou e rapidamente circulou o mundo inteiro em tons estridentes. O maior jornal dos EUA, o New York Times, chegou a afirmar: “a quantidade de ecstasy que um usuário recreativo toma em uma noite pode já ser o suficiente para causar danos cerebrais permanentes”. Isso se deu principalmente porque era o tipo de informação que combinava com a visão tradicional que se tem sobre substâncias psicodélicas: de que são extremamente perigosas e nocivas.

Até que outros especialistas resolveram dar uma olhada no estudo.

Logo detectaram uma série de dados estranhos e conclusões que não faziam sentido. Assim, resolveram questionar os autores do estudo original, que acabaram confessando um erro obsceno: ao contrário do que haviam afirmado, os cientistas não haviam utilizado MDMA nos seus experimentos com macacos – mas, sim, meta-anfetamina, duas substâncias distintas. Aos autores do artigo não restou nada a não ser admitir a lambança e publicar uma retratação em 2003.

Mas já era tarde demais. Ao menos 26 dos maiores jornais dos EUA, como o New York Times e o Washington Post, publicaram notícias sobre o estudo falso, em 2002, mas apenas metade publicou sua retratação. E mais: muitas das reportagens sobre o grande erro no estudo original eram mais curtas e não continham informações importantes para contextualizar o engano. Isso obviamente ajudou a perpetuar o preconceito contra drogas que são usadas de forma recreativa – mas que também possuem potencial médico, como o MDMA.

Foi isso que concluiu um estudo publicado no Journal of Psychoactive Drugs em novembro de 2020, que analisou os impactos na mídia do artigo falso. O comportamento é um aspecto comum no jornalismo: as notícias originais costumam ser muito mais lidas do que a admissão de erros que eventualmente possa seguir. Isso só reforça a importância da checagem de dados e de entrevistas com especialistas no assunto.

Ainda hoje encontramos, no Brasil, profissionais de saúde e médicos que se referem vagamente aos efeitos tóxicos do MDMA, mas que desconhecem a história completa. Como as pesquisas recentes mostram, quando o MDMA é fabricado com controle de qualidade e administrado em contexto terapêutico sob supervisão médica, ele tem, sim, enorme potencial no tratamento de traumas graves. Já quando obtido de forma ilícita, onde é apelidado de ecstasy, bala, molly etc, mais de metade das doses sequer contém a substância MDMA, além de virem acrescidas por até 500 contaminantes. Por isso, é tão importante diferenciar as duas situações.

LINK: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02791072.2020.1847365?forwardService=showFullText&tokenAccess=WMPJ56VGKSMTQRWXU7VE
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2020.1847365&doi=10.1080%2F02791072.2020.1847365&target=10.1080%2F02791072.2020.1847365&journalCode=ujpd20

Experiência psicodélica não é surto psicótico

A ingestão de psicodélicos costuma vir acompanhada por muitos temores – e preconceitos – da população em geral, mas também por profissionais da saúde. Um dos maiores é a percepção de que a experiência psicodélica possa ser parecida com surtos psicóticos, como os causados por esquizofrenia, por exemplo.

Desde o século 19, cientistas afirmam que os efeitos psicodélicos são equivalentes a episódios de psicose. Quando o LSD foi inventado em 1943, pesquisadores chegaram a oferecer a substância a voluntários saudáveis em estudos, para poder examiná-los como se estivessem em estado de psicose.

Mas não é bem assim. A revista científica Schizophrenia Bulletin de novembro de 2020, publicou um estudo, conduzido por pesquisadores dos EUA, França, Inglaterra, República Tcheca, Bélgica, Suíça e Austrália, que mostra que, de fato, esses dois estados de consciência são distintos. Os pesquisadores coletaram dados farmacológicos, de neuroimagem, de fenomenologia e da antropologia para chegar a essa conclusão – e encontraram diferenças importantes.

Em primeiro lugar, confirmaram que, enquanto episódios de psicose e de esquizofrenia causam alucinações auditivas, as experiências psicodélicas provocam efeitos principalmente visuais. Isso já havia sido apontado nos anos 50, mas agora neuroimagem mostra que o efeito se deve a padrões distintos de atividade cerebral. No caso da psicose, ela ocorre em regiões de córtex associativo. Já no caso dos psicodélicos, a atividade se concentra mais no córtex visual primário.

Outra diferença importante está na percepção da realidade. Durante casos de psicose e de esquizofrenia, os pacientes sentem dificuldade em distinguir as alucinações que estão ouvindo da realidade externa. Por outro lado, a maior parte das pessoas que ingerem psicodélicos são capazes de distinguir o que, entre tudo que estão enxergando, é efeito da substância e o que está realmente no ambiente ao redor.

A literatura científica mostra que são extremamente raros os casos em que substâncias psicodélicas causem surtos psicóticos. Por isso, é importante reconhecer a diferença entre os dois quadros. Isso se torna ainda mais urgente nos últimos anos, em que as pesquisas com o uso terapêutico e clínico de psicodélicos não param de crescer, mas em que o receio com essas substâncias ainda é muito comum em muitos profissionais da área da saúde.

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Link: https://academic.oup.com/schizophreniabulletin/article/46/6/1396/5908041