Estudos mostraram que MDMA é capaz de curar dois terços dos casos graves de estresse pós-traumático. Outro indicou que a psilocibina – o princípio ativo dos cogumelos mágicos – é tão eficiente em tratar depressão quanto o escitalopram, um dos antidepressivos clássicos mais populares que existem. Com tantos resultados positivos, não é de se espantar que a propaganda e venda de remédios à base dessas substâncias tenha se tornado uma lucrativa – e predatória – indústria.
Esse foi o tema da reportagem de capa da revista americana The Nation, de março de 2022, para a qual o presidente do Instituto Phaneros, Eduardo Schenberg, PhD, concedeu uma entrevista. A matéria ressalta como o mundo dos psicodélicos pode estar se afastando de suas origens tradicionais indígenas e de sua trajetória contrarrevolucionária dos anos 1960, para ser sugada pelo universo das startups e da lógica capitalista.
Atualmente, existem mais de 50 empresas de capital aberto que desenvolvem e ministram componentes psicodélicos nos EUA – três delas com um valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão. Estima-se que a indústria cresça em ritmo alucinante nos próximos anos: em 2020, ela movimentou US$ 2 bilhões, e a projeção para 2027 é de US$ 10,8 bilhões. A aposta das empresas é conseguir patentear drogas psicodélicas derivadas das substâncias naturais, que depois possam ser comercializadas pagando direitos autorais. “Para essas empresas, é normal tentar bloquear competidores com patentes agressivas. É assim que elas operam”, disse Eduardo, que tem artigos publicados criticando o abuso de patentes, tanto da psilocibina quanto da ayahuasca
Os próprios diretores dessas empresas não estão necessariamente envolvidos na causa psicodélica. A revista cita o caso de Peter Thiel, acionista da Compazz Pathways. Thiel é cofundador do PayPal e da firma de análise de dados Palantir – que presta serviço para a Agência de Segurança Nacional americana, ajudando-a a vigiar a população e a localizar imigrantes ilegais que seriam separados de seus filhos na fronteira EUA-México. Infelizmente, na nova revolução psicodélica, quem anda ditando o ritmo, para variar, é o lucro.